sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Paraguai: Uma breve análise de suas seis ultima décadas.

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé
Graduação em História



Bruno Botelho Horta
Quarto Período


Paraguai:
Uma breve análise de suas seis ultima décadas.
Matéria: História da América
Professor: Victor Tempone.


Resumo:
Este trabalho tem por objetivo analisar as transformações do estado e da sociedade paraguaia, tendo um enfoque maior na política oficial, destacando-se aí o período do presidente Stroessner. Analisar-se-á ainda as trocas de poder e o constante conflito para manter a dominação política. Onde a troca de lideres não significava a troca de métodos de administração. O recorte temporal do trabalho se faz a partir do início da década de 1950 e vai até os dias de hoje. É a análise de uma sociedade rural e apegada as práticas tradicionalistas.

Introdução
Este trabalho foi produzido com o objetivo atender à avaliação do segundo bimestre da matéria de História da América, do Curso de História, da FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ – FAFIMA, ministrada pelo professor Victor Tempone. Foi encetada uma pesquisa acerca da história do Paraguai em seus aspectos políticos e econômicos. Utilizando um recorte de tempo que se inicia na década de 50 do século XX até o início da segunda década do século XXI. Neste trabalho abordei os aspectos recentes da história paraguaia utilizando, como substrato teórico, o pensamento e as categorias de Peter Burke, Clifford Geertz e Carlo Ginzburg. Acredito que a nossa vida social, e neste conceito incluo os aspectos políticos e econômicos, é movida e determinada pela cultura. Quando não pela cultura em que um indivíduo se encontra inserido, pela cultura que o mesmo estuda ou almeja pertencer. E ainda pode ser considerado o aspecto combativo, no qual este indivíduo ou um grupo destes procuram alterar ou modificar uma determinada cultura, isto é, modificar a forma de pensar das pessoas que compõem a sociedade e, desta forma, construir uma nova cultura, uma nova sociedade, uma nova forma de pensar.
Para Ginzburg, o termo “cultura”, em sua acepção antropológica, é um conjunto de atitudes, crenças, códigos de comportamento, próprios das classes subalternas num certo período histórico. E são as atitudes que determinam a história de um país, as crenças nem sempre religiosas que modificam o pensamento das massas e a forma de reagir positiva ou negativamente aos fatos, que traçam a característica de um povo. Foi trabalhando dentro deste ponto de vista que esse trabalho foi desenvolvido.

I - Da política dos anos 50 ao atual momento paraguaio
Cultura: (1) "o modo de vida global de um povo"; (2) "o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo"; (3) "uma forma de pensar, sentir e acreditar"; (4) "uma abstração do comportamento"; (5) "uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente"; (6) "um celeiro de aprendizagem em comum"; (7) "um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes"; (8) "comportamento aprendido"; (9) "um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento"; (10) "um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens"; (11) "um precipitado da história",

Clyde Kluckhohn

O ecletismo é uma autofrustração, não porque haja somente uma direção a percorrer com proveito, mas porque há muitas: é necessário escolher.(Clifford Geertz, A Interpretação das Culturas – pg 4)

1 – Lutas pelo Poder e Instabilidade Política no Paraguai:

O ano de 1950 no Paraguai tem como chefe de governo o advogado, colorado, democrata, filho de brasileiro com paraguaia, Federico Chaves Careaga (1882 – 1978), responsável por realizar a transição de um período de instabilidade para um período de legalidade e regime constitucional. Careaga foi eleito em 11 de setembro de 1949. A instabilidade política anterior fora marcada pelos governos de Felipe Benigno Molas López de 27 de fevereiro de 1949 até 11 de setembro de 1949. Do General Raimundo Rolón Villasanti, governante de 30 de janeiro de 1949 até 26 de fevereiro de 1949. E de Juan Natalicio González Paredes, no poder de 16 de agosto de 1948 até 30 de janeiro de 1949. Este período de constantes revoluções e golpes entregou a Careaga um país frágil e economicamente falido.
Em seu governo, a Escola de Guerra voltou a funcionar no Paraguai, possibilitando que as forças armadas voltassem a formar oficiais comprometidos com o sentimento nacionalista e não servindo a interesses individuais. Por não ser militar, o presidente Careaga fortaleceu as instituições policias e civis. Simbolicamente, nomeou a Virgem de Assunção comandante do exército paraguaio, desta forma sinalizando que o exército estava acima dos interesses de qualquer pessoa.
“Os símbolos sagrados funcionam para sintetizar o ethos1 de um povo — o tom, o caráter e a qualidade da sua vida, seu estilo e disposições morais e estéticos” . O filósofo argentino Enrique Dussel, referindo-se a um “ethos” latino americano, reforça a relação entre este e a cultura quando afirma:

O ethos é a maneira como cada homem e cada cultura vivem o ser. Onde predomina a ontologia da totalidade, o diferente é visto como ainda não-ser. É por isso que acreditamos na força do povo latino-americano. Temos confiança que da periferia do mundo erguer-se-á a alteridade, como distinta, diferente, autônoma.


A religiosidade sempre foi um instrumento oficial do Estado durante as ditaduras sul-americanas. Impondo uma religião oficial, no caso o catolicismo, o ditador coloca a estrutura e a influência da igreja ao seu lado e desta forma legitima sua tirania na fé. A fé cristã na América do Sul prega o pacifismo religioso e a humildade na terra para ser grande no Reino dos Céus. “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5:5)
É a oportunidade perfeita para que os regimes militares se estabelecessem no continente. Oprimindo a sociedade nas ruas, no trabalho e em suas próprias casas, mas nas igrejas esta mesma sociedade encontrava conforto para seu sofrimento diário.
A intenção de Careaga não era oprimir seu povo e sim demonstrar que o militarismo é um poder aliado à sociedade e não constituído para oprimí-la. A mensagem que Careaga procurou passar com o seu ato foi a de que os militares eram tão importantes na defesa da soberania nacional e na reconstrução do país, que a pureza da virgem de Assunção deveria ser a mesma pureza de sentimentos dos integrantes do exército paraguaio.
A quebra do regime constitucional e o fim do processo democrático no Paraguai ocorre em 4 de maio de 1954. Alfredo Gustavo Stroessner (1912 – 2006), general do exército paraguaio, promove um golpe de estado. O principal motivo deste golpe seria a reeleição de Careaga, pois em junho de 1952 havia sido aprovada essa possibilidade após uma emenda constitucional no Paraguai. Certos da vitória de Careaga, uma parte do próprio partido colorado cria as condições para o golpe militar. Ainda em agosto de 1954 Stroessner é eleito, por uma junta militar, Presidente da República. E seria novamente reeleito por mais oito vezes como candidato único.

É difícil estabelecer uma única definição de cultura e poder, pois são termos complexos e amplamente empregados na História e nas Ciências Sociais. A relação entre esses dois campos de investigação enfatiza a natureza conflituosa das relações sociais, tanto em termos dos padrões de comportamento quanto de ordenamento social. O poder é um dado intrínseco às relações sociais, afetando a tudo e a todos. Sua natureza relacional apresenta-se, portanto, como um dado fundamental. Nesta perspectiva, a definição de cultura está indissociada da dinâmica das negociações políticas, dos conflitos sociais e das relações de poder nas sociedades .

Nesta citação de Pierre Laborie podemos identificar como o pensamento do Partido Colorado paraguaio era, além de se manter no poder, se manter no controle de quem está no poder. O passado recente da história política do Paraguai revelava que os insatisfeitos e poderosos não aguardavam o momento democrático para disputar o poder, simplesmente o tomavam. Fazer parte do estado paraguaio das relações sociais do poder era necessariamente exercer o poder. Como afirma anteriormente a “cultura está indissociada da dinâmica das relações políticas, dos conflitos sociais e das relações de poder. Relações que no Paraguai não respeitavam a organização constitucional e democrática. O conflito social, já entendido como um elemento recente da cultura política paraguaia é tolerado como forma de reorganizar o jogo político.
Careaga se refugia na escola militar que ele mesmo havia criado, permanece lá por 48 horas e é exilado na embaixada da Espanha, de onde vai para Europa.
Stroessner promoveu uma implacável perseguição a todos que divergiram de opiniões, atividades ou intenções do estado por ele chefiado. Com a crescente guerra fria que dividia o mundo entre oriente e ocidente, Stroessner se alinha com o ocidente, aceitando e defendendo a hegemonia hemisférica dos Estados Unidos. Ao vestir a camisa do anticomunismo, Stroessner passa a contar com generosos empréstimos dos EUA, endividando o Paraguai e alimentando seu aparelho estatal, já entregue à corrupção, com mais dinheiro ainda.
A afirmação de Stroessner em 1954 de que daí para frente seria “café ou leite, nada de café com leite”, deu bem o tom do que seria o seu governo. Stroessner modificou a constituição paraguaia sempre que seus interesses foram ameaçados. Criou leis ao mesmo tempo repressivas para quem não estava no poder e permissivas para os encastelados nas altas esferas da sociedade paraguaia. Perseguiu os dissidentes e os exilou. Massacrou o sistema de ensino, tornando o magistério uma carreira pouco atrativa e sem recursos para formar cidadãos responsáveis. Sua dominação possuía um caráter fascista, na qual o nome do ditador e sua imagem eram veiculados em todos os eventos esportivos, políticos e culturais, formando, assim, um imaginário de vigilância e superioridade.
A tomada do poder promovida por Stroessner não foi uma ruptura a padrões já estabelecidos de democracia. Foi, na verdade, uma continuação de um período de muita instabilidade e autoritarismos, golpes e revoluções. A sociedade não possuía a experiência de viver uma verdadeira democracia e o golpe de maio de 54 era apenas mais um em sua conturbada política.

No final dos anos 1950, o Movimento Popular Colorado começa a se articular na base do partido colorado para um movimento que se tornaria, no futuro, uma revolta com vistas à derrubada de Stroessner. Foi a partir desse movimento que a política interna foi endurecida e a preservação do poder se fez de forma autoritária e inconstitucional.
O Congresso foi fechado e os opositores exilados. O estado de sítio declarado pelo governo destruiu toda a fachada democrática e mergulhou o país em uma política repressora, nada diferente das demais ditaduras da América do Sul. As demais organizações revolucionárias surgiam e eram massacradas na mesma velocidade. Frente Unida de Libertação Nacional (FULNA), coluna Yororó e o Movimento 14 de Maio, todos duramente reprimidos.

Simplificar e homogeneizar o inimigo a combater, encontrar por toda a parte o mesmo rosto quando se trata de detectar o agente ameaçador, unificar uma dispersão, ordenar e hierarquizar o que parece caótico, reduzir o oponente a meia dúzia de traços, a uma definição sumária, criando uma situação de antagonismo maniqueísta, uma situação de conflito onde só se podem existir duas situações possíveis: ou se está dentro, ou se está fora, ou se está a favor ou se está contra aquela posição definida como sendo a ortodoxia, a norma, a verdade, a realidade .

Neste trecho Ginzburg consegue exemplificar perfeitamente o modo de agir da ditadura Paraguai. Quem não apoiava o regime imposto por Stroessner era um adversário a ser eliminado. Quem não compartilhava exatamente o modo de pensar e não se comportasse exatamente como o governo determinava era um inimigo público, um inimigo do povo. Era essa ortodoxia que não permitia negociações, não permitia pontos em comuns com quem não era partidário do governo. Qualquer elemento que tivesse uma posição não alinhada com o governo era considerado um desertor, um revolucionário, um elemento prejudicial a sociedade paraguaia. Era simplificar a definição de oposição como um inimigo e utilizar todos os recursos, principalmente os violentos, para dispersar ou eliminar posições contrárias e ameaçadoras ao governo.
As medidas para acalmar a população e dissolver os movimentos revoltosos foram tomadas no início dos anos 60 com a “Segunda Reconstrução Nacional”, quando, sob a fachada de uma reforma agrária, o campesinato foi desarticulado e disperso pelo interior do país. Um grupo de proprietários de terras foi articulado em favor do governo e alguns desses latifundiários, donos de terras inóspitas, receberam grandes quantias de dinheiro para vender suas terras improdutivas e nelas serem organizadas colônias agrícolas fadadas ao fracasso. Fracasso que se confirmaria pouco tempo depois. O capital internacional recebeu concessões e se estabeleceu nas áreas agrícolas, na pecuária e na petrolífera. Inclusive na anteriormente proibida “fronteira seca” com o Brasil. Local de fronteira não demarcada pelos rios Paraná e Paraguai.
No fim dos anos 60 foi a Igreja que iniciou uma campanha pelo fim das arbitrariedades e a favor dos direitos humanos. A reação do bloco dominante de Stroessner foi dura contra o Partido Democrata Cristão, a Central Cristã de Trabalhadores e as Ligas Agrárias.
Em 1973 Stroessner consolida sua aproximação com o Brasil e o afastamento com a Argentina, sua maior parceira comercial até aquele momento. Com a formalização da construção da usina de Itaipu na segunda metade da década de 1970 e a chegada do governo Carter nos EUA, a ditadura de Stroessner experimentou um crescente isolamento continental, até ao ponto em que o governo paraguaio pouco representava estrategicamente na política dos Estados Unidos para a América do Sul. Era o desgaste final do governo constituído e mantido à custa da opressão e da miséria de seu povo. O bloco histórico formado pela hegemonia política de Stroessner e seus seguidores no país começava a esmorecer.

Pode-se excluir que, por si mesmas, as crises econômicas imediatas produzam eventos fundamentais; podem apenas criar um terreno mais favorável à difusão de determinados modos de pensar, de pôr e de resolver as questões que envolvem todo o curso subseqüente da vida estatal .

Foi o desgaste de mais de trinta anos de stroessnismo que levou alguns grupos a se distanciarem do governo; médicos, civis e militares descontentes iniciaram as manobras visando à tomada do poder.
Entre os dias 2 e 3 de fevereiro de 1989, uma nova revolução no Paraguai põe fim ao regime ditatorial de Strossner. O General Andrés Rodrigues, braço direto do ditador, lidera um movimento pela fraternidade entre os paraguaios, o respeito das normas da igreja Católica e a vigência das normas constitucionais.

Os símbolos religiosos formulam uma congruência básica entre um estilo de vida particular e uma metafísica específica (implícita, no mais das vezes) e, ao fazê-lo, sustentam cada uma delas com a autoridade emprestada do outro .

Mais uma vez é a religião que justifica uma retomada de poder ou de controle do poder. Defender os valores do catolicismo é uma das justificativas para a tomada do poder. O movimento revolucionário se veste dos princípios católicos e propagandeia esses valores para encontrar apoio do povo de maioria católica em mais um movimento de revolução interna do partido colorado.
Andrés Rodríguez foi o primeiro Presidente eleito de forma direta depois da ditadura de Strossner. Uma nova constituição foi votada e aprovada em junho de 1992. A liberdade voltou a ser um sentimento experimentado por todos os paraguaios e a República do Paraguai iniciava sua longa jornada em busca de estabilidade e afirmação.
Um povo que viveu oprimido ainda não possuía a prática da democracia. Um estado democrático sem tradição para o povo paraguaio e por não pertencer ao sentimento do povo, ainda frágil e controlado por homens ainda com práticas repressivas, já sinalizavam momentos ainda turbulentos na história política do país. Os homens não modificam seus pensamentos de forma tão rápida. Como bem afirmou Peter Burke, “Por outra parte, si las rechazamos, corremos El peligro de no tomer em cuenta lãs diferentes formas em que las idéias de los indivíduos sufren la influencia de los grupos a los que pertencem”
E um destes homens era Juan Carlos Wasmosy, conhecido como um dos “Barões de Itaipu”, herdeiro das práticas ditatoriais de Stroessner e que chegou ao poder e o manteve entre 1993 e 1998. Juan Carlos faliu o Paraguai: durante a sua administração desapareceu dos cofres do Estado a soma de 6.000 milhões de dólares, tornando o país mundialmente reconhecido como o mais corrupto do mundo.
Wasmosy viveu sob o regime ditatorial de Stroessener e absorveu suas práticas. Sua chegada ao poder não poderia significar outra coisa que não a usurpação do dinheiro público e o enriquecimento ilícito para quem estava no governo. A credibilidade do Paraguai despencou junto à comunidade internacional e os grupos internacionais de investimentos não encontravam no Paraguai a transparência necesária e nem a estabilidade fundamental para colocarem seus capitais no país.
Chegam as eleições de 10 de maio de 1998 e o engenheiro Raúl Cubas Grau conquista a presidência com 54% dos votos. Em 15 de agosto de 1998 toma posse, trazendo junto uma equipe de técnicos em suas respectivas áreas para tentar recolocar o país na rota de crescimento. Ameaçados, os herdeiros econômicos e políticos da ditadura de Alfredo Stroessner iniciaram uma conspiração aberta contra o governo constitucional. São eles José Alberto Planas, filho do ex-chefe de investigações de Stroessner ; os irmãos Aguirre, filhos do general Juan Esteban Aguirre, perseguidor das Ligas Agrárias; a família Argaña, filhos do ex–Presidente da Corte Suprema de Justiça do ditador Stroessner; Jaime Bestard, filho do ex–Vice ministro do Interior e Luis Angel González Macchi, filho do ex–sub chefe da Polícia.
A conspiração culmina com a morte do vice-presidente, Dr. Luís Maria Argaña, em um atentado a tiros depois de uma emboscada ao carro em que ele estava. O Presidente Cubas seria julgado e estava prestes a perder o mandato. Argaña era um político ligado às práticas ditatoriais de Stroessner e uma temida volta ao passado levou à eliminação do vice presidente.

Eram 10h45 da terça-feira 23 e Haydée Ramírez, uma senhora franzina e de cabelos brancos, limpava a entrada e o jardim da casa de número 873 da rua Diagonal Molas, em Assunção. Com uma vassoura de piaçava numa mão e um balde com água e sabão em pó na outra, Haydée esfregava em silêncio as marcas de sangue do mais ruidoso evento da política paraguaia. Havia menos de duas horas, o motorista Victor Raúl Barrios deixara um jipe Nissan Patrol atravessado na rua com duas rodas sobre a calçada e entrara em sua casa para pedir socorro. Tinha um olho perfurado por uma bala e chumbos de um tiro de escopeta impregnados em todo o rosto. Segundos antes, um Tempra verde-metálico (roubado em São Paulo em agosto de 1998) aproveitou a desaceleração causada por um quebra-molas e bloqueou o caminho do jipe que conduzia o vice-presidente do Paraguai, Luis Maria Argaña, 66 anos, ao escritório. Foi uma ação relâmpago de profissionais que dificilmente podem ser contratados no Paraguai. Vestidos com calças camufladas, iguais às usadas pelas Forças Armadas, cabelos curtos e rostos descobertos, três ocupantes do Tempra saltaram do carro. O primeiro carregava uma escopeta. Seu tiro feriu o motorista quando ele tentava dar marcha à ré e parou o carro. Com fuzis M-16, o segundo e o terceiro pistoleiros partiram para cima dos outros ocupantes do carro. No banco da frente, morreu o guarda-costas Francisco González. No banco de trás, dez tiros liquidaram, com duas semanas de antecedência, a possibilidade de Luís Maria Argaña vir a substituir o presidente, caso o Congresso paraguaio aprovasse o processo de impeachment contra Raúl Cubas. Era um crime planejado para não deixar rastros. Uma granada foi acionada, mas o pino detonador não se soltou completamente. Se tivesse explodido, não haveria sequer um corpo a ser enterrado. Na fuga, os três pistoleiros incendiaram o Tempra a três quarteirões do crime e passaram para um Gol branco. Até sexta-feira 26, havia alguns suspeitos presos, mas nenhuma convicção de que o crime será punido .

Os aliados do Governo Constitucional de Cubas não conseguiram evitar o seu julgamento no legislativo paraguaio. No final de março de 1999 os parlamentares de oposição obtiveram os votos necessários para marcar o julgamento de Cubas e fixaram a data para 7 de abril desse mesmo ano. Mas o julgamento não chegou a ser realizado.
Grupos rurais reivindicando o perdão de suas dívidas estavam reunidos na Praça do Congresso desde as primeiras horas do dia 23 de março, no mesmo momento a mídia difundia o atentado e a morte do vice-presidente Argaña, motivo que logicamente alterou os ânimos dos manifestantes, exigindo a imediata renúncia de Cubas.
Os parlamentares aliados do governo Cubas estavam nas suas cidades de origem, no interior do Paraguai ou fora do país, e toda essa conjuntura foi aproveitada para dar inicio ao processo de cassação, já que Cubas negava-se a renunciar. Os votos necessários para o processo já estavam confirmados, mas antes de ser consumado Cubas Grau, renuncia.
Cubas pede exílio ao governo brasileiro e passa a residir no sul do país. Ele era um homem rico e proprietário da construtora 14 de Julio, uma das responsáveis pela obra de Itaipu.

Nota nº 99 de 29/03/1999 - O ex-Presidente da República do Paraguai, Engenheiro Raúl Cubas Grau, que se encontra agora na Residência da Embaixada do Brasil em Assunção, pediu asilo político ao Governo brasileiro. O pedido foi aceito. O Embaixador do Brasil em Assunção, Bernardo Pericás, está solicitando o necessário salvo-conduto às autoridades paraguaias. Avião da Força Aérea Brasileira acaba de decolar para Assunção para trazer ao Brasil o ex-Presidente Cubas. Seguiu no vôo o Diretor-Geral do Departamento das Américas do Ministério das Relações Exteriores, Ministro Antonino Lisboa Mena Gonçalves, que acompanhará o ex-Presidente e seus familiares na viagem ao Brasil.

O plano de dar posse ao presidente do Congresso foi concluído com sucesso. O Senador Luís Ángel González Macchi tomou posse por um prazo constitucional de 90 dias. Esse prazo que não foi respeitado e mediante todo tipo de manobras inconstitucionais permaneceu no poder sob o pretexto de garantir e organizar um processo eleitoral democrático.

Deve atentar-se para o comportamento, e com exatidão, pois é através do fluxo do comportamento - mais precisamente, da ação social - que as formas culturais encontram articulação. Elas encontram também, certamente, em várias espécies de artefatos e vários estados de consciência .

Nicanor Duarte Frutos chegou ao governo. De agosto de 2003 a agosto de 2008 Nicanor Duarte viu sua popularidade despencar, pois seu governo foi marcado por ineficiência administrativa, altos índices de corrupção e pela convocação de uma constituinte apenas para aprovar uma emenda legalizando a reeleição no país. A Europa parou de investir no Paraguai devido à má imagem e à falta de políticas internas que favorecessem os investimentos internacionais. O governo Duarte Frutos não gerava confiança, uma margem de transparência que fortalecesse as instituições e dessem garantias jurídicas que apoiassem a vontade dos estrangeiros para investir no país.
Em 20 de abril de 2008, o ex-bispo católico Fernando Armindo Lugo de Méndez, venceu as eleições paraguaias. Concorrendo pela chapa Aliança Patriótica para a Mudança, põe fim a 61 anos de domínio do Partido Colorado no Paraguai. Fernando Lugo venceu a candidata colorada Blanca Ovelar com mais de 40% dos votos válidos.
Fernando Lugo deixou a igreja em 2006, depois de ver negado um pedido ao Vaticano para concorrer às eleições. Seu principal motivo para abraçar a política foi um abaixo assinado de cem mil nomes e uma coalizão de nove partidos de oposição.

A briga, uma figura cultural contra um fundamento social, é ao mesmo tempo uma avolumação convulsiva de ódio animal, uma guerra caricaturada de “Eus” simbólicos e uma simulação formal das tensões de status .

Fernando Lugo representava a mudança e a esperança. Blanca representava o continuísmo. O embate foi inevitável e o clímax aconteceu no ultimo debate presidencial transmitido pela televisão Telefuturo, onde todos os demais candidatos, além de Fernando Lugo, cinco ao todo, prepararam um forte ataque contra sua popular aceitação, principalmente por sua desistência de seguir como Bispo e entrar na política. Mas depois de ter sua participação, confirmada Fernando Lugo não compareceu. Essa atitude estratégica para fugir dos ataques e permanecer na liderança das intenções de votos deu resultado positivo. Apesar da revolta dos candidatos e da emissora de televisão, Fernando Lugo venceu confortavelmente as eleições e permanece no cargo até o dia de hoje. Até então, o Paraguai se definia pelas palavras de uma de suas personalidades importantes, o General Lino Cesar Oviedo, que assim o definiu:

O Paraguai, terra de polcas e guarânias, de ipê em flor, uma terra que os que tivemos o privilégio de conhecê-la reconhecemos nela o reflexo de um verdadeiro éden, mas que contrasta mundialmente por sua corrupção, sua impunidade e pela absoluta falta de justiça.


II - A Economia e a cultura entrelaçadas

Desde a década de 1960, os paraguaios intensificaram seus negócios mais com os argentinos do que com os brasileiros. Certamente pelos efeitos causados durante a Guerra do Paraguai com o Brasil (1864 – 1870). Por exemplo, na década de 1950 eram raros os paraguaios que sabiam ou tinham algum conhecimento do português.
Os paraguaios viram no Brasil boas possibilidades a partir do governo de Stroessner. Era a alternativa que o país encontrava para não depender apenas do porto de Buenos Aires. O Brasil começa então a ocupar outro papel dentro deste território. A imagem de vizinho ameaçador foi substituída pela de amigo e parceiro.
Em 31 de março de 1952, por meio de troca de documentos, o programa de atividades culturais e educacionais brasileiro em solo guarani passou a existir oficialmente sob o formato e a nomenclatura de Missão Cultural Brasileira no Paraguai. O complexo acordo firmado entre governo brasileiro e paraguaio regulamentava uma série de atividades de cunho educacional e cultural entre ambos os países.
No campo da música, Julian Rejala (1901 – 1981), promotor da arte paraguaia, excursionou com sua orquestra por toda a América do Sul. Foi o responsável pela inclusão da dança folclórica nas escolas de seu país. Com o Grupo Folclórico Guarani ganhou o festival internacional de Salta, na Argentina, em 1966, além de criar a Associação de Autores Paraguaios.
Na literatura o escritor Augusto Roa Bastos (1917 – 2005), destacou-se por sua produção reconhecida mundialmente e com um grande número de títulos traduzidos para 25 idiomas. Escreveu poemas, romances e peças teatrais, com temas ligados à política e à ditadura paraguaia. Foi exilado na Argentina e depois na França, onde contribuiu para a divulgação da cultura guarani. Em 1989 recebeu o prêmio Miguel de Cervantes, o mais importante título da literatura espanhola, promovido pelo governo da Espanha. Outro destaque na literatura paraguaia foi a indicação de Nestor Amarilha ao Nobel de literatura em 2009.
Musicalmente o Paraguai se destaca pela criação e divulgação da Guarânia, estilo folclórico criado em 1925 por José Asunción Flores, basicamente uma versão desacelerada da polca Paraguaia. As letras remetendo ao heroísmo do povo paraguaio e o acompanhamento sinfônico são as principais características do estilo.
Ainda no âmbito da cultura pode-se destacar a culinária tradicionalmente indígena do país. No esporte os jogadores de futebol Roque Luis Santa Cruz Cantero (Olímpia, Bayer de Munique, Blackburn, Mancherter City), Carlos Alberto Gamarra Pavón ( Cerro Porteno, Independiente, Internacional, Benfica, Corinthians, Atlético de Madri, Flamengo, AEK, Internazionale, Palmeiras, Ethinikos Piraeus), José Luis Félix Chilavert González (Esportivo Luqueño, Guarani, San Lorenzo, real Zaragoza, Velez Sarsfield, Strasbourg, Peñarol), Francisco Santiago Reyes Villalba (Presidente Hayes, Olimpia, River Plate, Atlético de Madri, Flamengo), Modesto "Cachito" Bria (Nacional e Flamengo). O tenista Victor Pecci. Já em olimpíadas é um país sem qualquer tradição.
Com uma cultura muito ligada à terra, a economia do Paraguai caminha no mesmo sentido: seu principal produto de exportação é a soja. Atualmente é o quarto maior exportador do produto no mundo de acordo com o Rural Centro, a maior rede de comércio de soja da América do Sul.






Conclusão

Desde os anos de 1950 o Paraguai está mergulhado em uma série de problemas políticos/militares que não permitem que o desenvolvimento ocorra no país. Os governantes militares que assumem o poder sempre procuraram políticas dominadoras do povo e com a forte intenção de se perpetuar no poder. Sem uma sequer razoável experiência democrática, a sociedade incorpora subconscientemente as práticas de seus governantes e se fixa em práticas rurais e conservadoras, com os políticos mantendo o conservadorismo e deixando o poder na mão de poucos e a renda concentrada nas mãos de uma minoria. Resta ao povo, que não tem acesso às tecnologias mais modernas, viver sob uma condição muito abaixo dos índices sociais mais aceitáveis, com práticas culturais que não evoluem tecnológica, comportamental ou comercialmente.





Bibliografia:

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CHEDID, Daniele Reiter. A missão Cultural Brasileira no Paraguai: Uma relação Política Bilateral. Artigo. Maringá. 2007.

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